Campanhas políticas pelo mundo afora já empregam tecnologias digitais há mais de uma década, desenvolvendo ferramentas e técnicas cada vez mais sofisticadas. No entanto, no Brasil só nesta última eleição marcou uma virada radical, pois candidatos, comitês de ação política e outros grupos de interesse conseguiram tirar proveito de avanços significativos em técnicas de marketing orientadas por dados, como a segmentação por dispositivos cruzados, entre tantos outros recursos que o marketing político digital oferece. A política eleitoral tornou-se agora totalmente integrada com a mídia digital que já transformou a forma como as campanhas influenciam as pessoas.
As estratégias, tecnologias e ferramentas do marketing político digital são mais complexas e possuem potencialmente mais longo alcance do que qualquer coisa que tenhamos visto antes com a chamada grande imprensa. Mas, como a maioria das operações digitais ocorrem discretamente, de um aparelho a outro, é o chamado marketing de entrada, em oposição ao marketing de saída que são os anúncios massivos que se repetem de maneira ostensiva. Essas campanhas digitais não são totalmente compreendidas pelo público.
E a classe política por preguiça ou medo de adotar o novo, sempre empurrou as inovações com a barriga, varreu para baixo do tapete. Só que o celular mudou a paisagem, e mostrou com todo escândalo que a imprensa não pauta a internet na campanha política, mas é o contrário. Por isso registramos aqui o reconhecimento de uma primeira eleição onde a internet foi a arena principal, e os jornais, rádio e televisão tiveram que seguir o mundo do arroba, tudo que venho dizendo ao longo desses últimos anos.
A ostentação da comunicação analógica, controlado com facilidade pelos grupos econômicos dominantes, ruiu ao fenômeno político digital. E tem sido uma derrota colossal para o cartel da grande imprensa, um mercado que está condenado a desaparecer ao dobrar a esquina. Claro, implícito nessa situação se encontra o fim do marketing político tradicional com expertise voltada à essa mídia corporativa.
As estações de televisão e de rádio, juntamente com os grandes jornais usaram os melhores recursos técnicos e humanos para conferir credibilidade à cobertura do processo eleitoral. O complexo rádio-televisão transmite o horário eleitoral gratuito, até então tido como o grande trunfo para os grandes partidos mantidos com o dinheiro público.
Pois é, assistimos agora um tsunami acabar com lideranças e partidos, reduzindo-os a meras figuras sem importância que tinham antes do pleito de outubro. Eles não ouviram os sons de uma nova mudança que já está acontecendo.
A grande mídia sempre foi mantida com o dinheiro público, com o orçamento completado pelos grandes grupos econômicos, que sempre possuem interesses excludentes aos do público. Naturalmente, ao longo dos anos esses grupos de comunicação concentraram inteligência, capital e tecnologia analógica. E como deuses os dirigentes desses grupos decidiam quem “vai pro céu ou pro inferno”. Assim negociam com vantagens infinitas com os candidatos em condições de superioridade com as conquistas eleitorais. É quando vemos que eles eram realmente os tutores de um povo de “menoridade” que nunca iria ser emancipado. Os usuários desses meios acabam por ficar com pensamentos empacotados que todos ridiculamente repetem parecendo robôs, com todas as vírgulas dos âncoras ou dos articulistas.
Esse procedimento pretensioso foi ensaiado pela imprensa no início do processo eleitoral de 2018. Os jornalistas da mídia corporativa apostaram na manutenção da velha política com velhas campanhas, e políticos que não desejavam sair da zona de conforto, ou seja, as velhas lideranças. Acreditavam que o horário político gratuito e as agências de publicidade iriam arrematar uma vitória fácil, ou seja, era mais uma questão de dinheiro, e menos de cidadania.
Ficamos cansados de ver os arrogantes analistas políticos dessa mídia tradicional de propaganda política. Por outro lado, também acreditavam na “desidratação” do “candidato da direita”, que deveria seguir seu destino menor com grande rejeição a um discurso radical e cheio de lacunas sobre planos de governo.
E um dado político é muito importante, que levavam em conta os velhos analistas, ninguém governaria sem alianças políticas, por isso o candidato da extrema direita não teria condições de se eleger, e se isso acontecesse, ele não conseguiria governar, pois o congresso nacional é sempre controlado pelos partidos de sempre, o lhe deixava capitão candidato como uma opção tecnicamente sem futuro. Bastava só alardear essa situação.
Eles não contavam que os novos meios de comunicação deixariam não só as velhas lideranças sem relevância, mas prenunciaram o fim de época que reinou a comunicação de massa. A história das campanhas presidenciais sempre contou com uma formidável máquina de guerra de informações baseada em jornalistas, que são entendidos em política, mas sem nenhuma afinidade na aplicação de comunicação e tecnologia, inteligência e abrangência por pessoa. Essa comunicação tradicional tornou-se decrépita, precipitando o ocaso do jornalismo analógico.
Redes de mídia impressa e rádio-televisiva, se unem aos “institutos” de pesquisa em períodos eleitorais para fazer a água correr para canais manipulados anteriormente pelos titulares do status quo. Esse aparato de desinformação (já que na guerra a primeira vítima é verdade) é despejado diariamente de maneira feroz sobre milhões de telespectadores, ouvintes e leitores.
Esses animados comunicadores não aprenderam a indexar seus conteúdos nos meios digitais, e abriu um abismo como milhões e milhões que lhes davam atenção.
Com a mobilização digital, sem disputa de audiência, pois os novos meios têm outras linguagens que não se assemelham àquelas dos meios tradicionais. Ideias revolucionárias sempre trazem novas formas, e o velho jornalismo não percebeu. O impacto das novas comunicações na eleição de 2018 tecnológico ficou escancarado pela mobilização virtual que resultou em mobilização nas ruas por inúmeras vezes.
O charme dessas comunicações é a sua discreção. E de uma maneira quase invisível as redes sociais, websites, notificações de rede e e-mails, whatsapp, telegram, produzidas, percebidas e recebidas nos tablets, telefones celulares e laptops dos milhões de usuários invadiram todos os rincões deste país e deram um “ippon” na grande mídia, o golpe perfeito em lutas marciais orientais. E essa onda avança de uma maneira espontânea de forma avassaladora, com informações, postagens, lives, memes, impressões ao sabor da disponibilidade, empatia, receptividade e afetividade dos internautas, tudo isso a um clique.
Há quem defenda que os movimentos à esquerda também não se saíram bem na internet. Esses grupos guardam uma cultura ligada ao proselitismo presencial, e não foram sensíveis a leveza e a sofisticação do marketing digital.
O fenômeno político digital, por outro lado, ampliou ainda mais a assimetria que caracteriza os chamados “conflitos de quarta geração”.
E o tsunami desafia todos os observadores públicos ou privados. Para os controles oficiais é um movimento desorganizado, pois sua formação não consegue captar a leveza e organicidade do digital. O estado tem se revelado incapaz de monitorar as campanhas com vistas à segurança. Uma posição terrível, muito além de embaraçosa, o Estado de Direito fica exposto às tempestades. Temos assistidos diariamente situações que se encaixam inteiramente na literatura de absurdo.
Quando aconteceu a avalanche de fake news na última eleição norte-americana, verificou-se depois de muito vexame de mídia e de governo, que eram humorados garotos de 17 a 23 anos na pequena e pobre cidade de Veles, na Macedônia, que apenas queriam dinheiro com marketing de conteúdo. Entrevistados pela grande imprensa eles disseram que só imitaram o que já existia no jornalismo tradicional. Daí, esse fenômeno de mentira deslavada estampada em noticiário ganhou o nome de pós-verdade, quando os políticos depois de conseguirem atingir objetivos como os eleitorais, revelam com cinismo que faltaram com a verdade. E o jornalismo antigo virou piada.
Sempre tenho falado em livros, artigos, cursos e palestras que as novas tecnologias investem o cidadão de poder, e o estado autoritário fica mais restrito. Na comunicação a mentira fica com pernas ainda muito menores, logo os usuários entregam o que existe por trás dos fatos públicos que emergem diariamente.
A massa está agora interconectada, mobilizada, atenta aos fatos, e ouvindo os chamados formadores de opinião que possuem afinidade com os novos meios. Acabou o crivo do editorialismo jornalístico, agora é o que falo há anos, é a hora do cidadão editor, atento e mobilizado impactando multidões.
Verdadeiros comícios virtuais tomam toda a atenção dos cidadãos que passam cada vez mais tempo conectados ao telefone celular e menos tempo dedicando atenção à TV, ao rádio e ao jornal impresso. Isso acontece em detrimento das grandes formas de mobilização política, os comícios e o horário eleitoral gratuito. Trata-se de crônica de uma morte anunciada. E o Brasil, apesar do atraso promovido pelas antigas lideranças, foi arrastado à revolução dos Novos Meios. Essa realmente foi a eleição que o Marketing Político Digital no Brasil mostrou sua força. Confesso, estou contente por isso, também.
No futuro falaremos sobre o mérito das estratégias mais usadas nessas eleições, que já abordamos no Ebook Atualizado do MPD, a venda no link.
LINK: https://marketingpoliticodigital.com/livro-2018/
E lembre-se, se você é candidato para 2020, você já está em pré-campanha.
Abraço e sucesso!
Leandro Rehem.