Nizan Guanaes, do Grupo ABC, aposta em redes sociais e diz que setor precisa entender os novos tempos. “Estamos em São Paulo, no 18º andar de um edifício de estilo neoclássico do Itaim, em São Paulo. Mas o que impressiona mesmo na decoração é um imenso retrato de Steve Jobs, da Apple, barba aparada e óculos de aro redondo. Está posicionado exatamente atrás da sua cadeira. — Foi um presente da minha mulher.”
Essa matéria saiu no site do globo, fev 2014, e vale a pena ser compartilhada.
“Este sujeito aqui (e aponta para a imagem) mudou tudo. Inclusive a propaganda — diz Nizan. — Ele ensinou que não se deve buscar o caminho mais fácil, porque sempre estará engarrafado; todos vão por ele.
Com seus celulares inteligentes e tablets, Jobs revolucionou o modo como se produz e veicula hoje qualquer tipo de conteúdo, inclusive os anúncios. A seu modo, Nizan também conduz uma revolução particular na gestão do Grupo ABC, que ele e mais quatro sócios fundaram em 2002. Hoje, são 15 empresas (entre agências de publicidade, como Africa e DM9DDB, e de relações públicas) e receita de R$ 1 bilhão em 2013. Sua missão declarada é levar o conglomerado da 19ª para a 9ª posição no ranking mundial da publicidade.
Foi justamente da África que saiu, na segunda-feira, uma notícia para fazer história. A empresa — com serviços de publicidade, marketing e branding para apenas 16 clientes, com direito a salas exclusivas para atendimento — foi escolhida pela americana “Advertising Age” como a Agência Internacional do Ano. Se a “Advertising” é uma espécie de bíblia do setor, a premiação pode ser equiparada ao Oscar. A última vez que uma agência brasileira mereceu a honraria foi em 2000, com a Almap/BBDO.
A votação aconteceu entre os editores da revista, e os critérios foram criatividade e inovação nas campanhas. Entre elas, a ação #issomudaomundo, criada para o Itaú em referência à Copa, e a do Head & Shoulders, de higiene pessoal, com o impagável Joel Santana e seu peculiar dialeto do inglês.
— É um divisor de águas, que nos coloca em outro patamar, nos credencia internacionalmente — diz o publicitário, que decretou “feriado” na agência, convidou parentes de funcionários para comemorar e distribuiu camisetas com os dizeres “I am foda”.
Num mundo em que a relevância dos veículos tradicionais parece estar em xeque diante da urgência das redes sociais, Nizan atua cirurgicamente. Aposta em nichos de negócios antes desprezados pelos concorrentes, segmenta a atuação de suas empresas e, principalmente, cria campanhas que podem começar como viral na internet e depois invadir outros meios. Foi dele a ideia de concentrar no escritório carioca da Africa, aberto em 2011, os investimentos em merchandising para cinema, teatro e TV. De R$ 50 milhões em contratos, a empresa movimenta cerca de R$ 100 milhões, graças ao peso de clientes como Procter & Gamble, Grendene e Itaú Unibanco.
No campo digital, seu projeto mais recente foi encomenda de Vivo e Samsung. Lançado por ora só no YouTube, já teve mais de três milhões de visualizações em menos de uma semana. Ao som de “Metamorfose Ambulante”, interpretada por Raul Seixas, conta a história de um homem das cavernas que descobre a utilidade de aparelhos tecnológicos que facilitam e encantam a sua até então insossa existência de caçador. No fim dos cinco minutos e 31 segundos de gravação, esse homem das cavernas se revela o próprio Raul Seixas — “o maluco beleza que sabia há muito tempo” que a web “fez do mundo uma verdadeira metamorfose ambulante”.
A conclusão do projeto está prevista para agosto próximo, aniversário do artista, com um show em sua homenagem.
— Hoje em dia, não existe uma campanha só para a internet. É tudo junto. Quando você pensa uma ideia, ela é multiplataforma (o meio pelo qual a informação é veiculada). A internet não é uma opção, já está em toda parte. Aliás, só quem fala em internet, como algo em si, somos nós, os mais velhos — diz o publicitário, 55 anos completados em maio passado, e 30 anos de carreira.
O próprio Nizan pode se considerar uma metamorfose em pessoa, tantas as mudanças de vida e carreira. Soteropolitano, trocou sua Bahia pelo Rio e, depois, por São Paulo. Fez as duas campanhas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e hoje se diz sem paciência para outra encomenda do gênero. No passado, deixou a publicidade para ajudar a construir o portal iG na internet; mudou de planos outra vez, e fundou a Africa, embrião do grupo ABC. Já pesou mais de 120 quilos (“um gordo consumindo três mil calorias é um sujeito feliz indo pro bebeléu”) e era notívago; agora, mantém a silhueta com alimentação controlada e exercícios.
‘A vida não é uma linha reta’
Nizan diz que o maior desafio das empresas de comunicação e de publicidade é “compreender as mudanças, e não lutar contra elas”.
— Isso seria inútil. Antigamente, se dizia que seríamos iguais aos “Jetsons” (o desenho animado povoado de carros voadores e robôs), se alimentando de pílulas. Só que hoje as pessoas querem coisas orgânicas. E quem esperaria a volta da bicicleta do jeito que foi. O carro do ano é a bicicleta. As pessoas não vão se comportar de uma maneira só. Quer outro exemplo? O Rio não mudou para o carnaval de rua? É isso, a vida não é uma linha reta.
Os projetos de expansão gestados por Nizan ganharam impulso com a chegada do Kinea, o fundo de private equity do Itaú. Em abril do ano passado, o banco pagou R$ 170 milhões por 20% do grupo. Cinco meses depois, Nizan fechava a compra da CDN, segunda maior empresa de relações públicas do país, por um valor não revelado. Ele garante que a fase compradora não acabou: os alvos são agências independentes e regionais e, num passo para vitaminar sua internacionalização (o grupo já possuiu agência nos EUA), aportar também na América Latina.
A chegada do novo sócio capitalista fortalece ainda a possibilidade de abertura de capital do grupo ABC. Mas Nizan prefere tratar esse projeto como possibilidade, e frisa que o esforço tem sido o de profissionalizar a gestão das 15 empresas. Não à toa, anunciou mês passado o nome do ex-ministro e presidente da Bunge Brasil, Pedro Parente, para ser o novo presidente do Conselho de Administração do grupo. No posto de chairman, Parente substitui o próprio Nizan, que segue como sócio da holding.
— O que as pessoas estão querendo é atitude, programas, carne e bife. Não só marketing político — diz, sem revelar predileção.
À pergunta sobre os efeitos dos protestos que tomam as ruas desde o ano passado, ele recorre a uma frase do prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri:
— Ele disse que hoje o sujeito é classe média financeiramente, rico em possibilidades e milionário em demandas. Essa é a verdade, e vale não só no caso brasileiro. Faz parte da dinâmica social do mundo conectado.
Loquaz na maior parte do tempo, Nizan só não gosta de falar muito de política. Em artigo na “Folha de S.Paulo”, defendeu a necessidade de novos líderes que assumam a comunicação de medidas impopulares.”
Acredito que os poucos clientes atendidos por Nizan tem o budget suficiente para surpreender e o mérito é coletivo, não individual, mas Nizan tem um grande ego e geralmente gosta de levar mérito sozinho. O que hoje é difícil e desafiador é fazer isso com sem recursos e com equipes limitadas. E é claro que Nizan gosta de falar de política, ele é um dos publicitários mais políticos do nosso país. Ele já foi citado em outra matéria, de dezembro do ano passado, que o PSDB não pretendia designar um novo marqueteiro tão cedo, mas que o publicitário Nizan Guanaes estaria ajudando “informalmente” a campanha. Ainda vem muitas novidades, é só acompanhar!
Referência:
http://www.jornalodiario.com.br/TNX/conteudo.php?cid=36027&sid=180