Uma lição de engajamento
Uma pequena cidade da Macedônia, Veles, tornou-se internacionalmente famosa na eleição de Donald Trump para a Casa Branca. Um grupo de jovens dessa região realizou um feito que deixou o mundo inteiro de queixo caído. Eles venderam mentiras na internet à peso de ouro direcionadas às eleições norte-americanas. E pelo o que se concluiu na grande imprensa internacional, eles influenciaram muito na vitória de Donald Trump.
Um caso de política internacional, envolvendo espionagem e suspense ou uma comédia dramática, como você quiser. Quando se descobriu que a cultura de fake news realmente influenciou o resultado das eleições, a imprensa e alguns políticos procuraram culpados. Alegaram que os sites eram da Rússia. A onda chegou a provocar resposta do presidente russo, e sua credibilidade era posta em prova pela mídia e políticos.
A verdade é genial porque é simples. O trabalho desses jovens com muita inteligência e poucos recursos foi extremamente simples, e prova que estratégias bem pensadas, com apoio das novas tecnologias, podem realmente decidir até uma eleição presidencial de país do porte dos Estados Unidos, é isso que interessa aqui.
Os jovens de Veles, durante a campanha de Trump, mantinham alguns perfis falsos no Facebook, e daí direcionavam o tráfego para sites que eles criavam. E essas páginas conseguiram ser bastante atraentes a ponto de atrair visitantes para ler fake news.
Grande mídia e verdade.
Como os meios de comunicação internacionais mostraram, muitos sites de política de Macedônia tinham o hábito de copiar artigos de notícias diretamente de sites dos EUA que eram notórios por produzir notícias falsas. Ou seja, eles pegavam o jeito da grande mídia e exageravam mais ainda, e eles escalaram o tráfego de suas páginas.
“Nós apenas utilizamos qualquer coisa que podíamos encontrar relacionada ao Trump como isca. É como uma pequena palavra mágica”, declarou um dos usuários de Veles. A isca é um conteúdo malicioso com objetivo de atrair usuários que clicam em um link.
“Estamos falando da produção em massa de desinformação com fins lucrativos”, escreveu o New York Times escandalizado. O jornal deixa perceber alguma inveja em suas declarações quando afirma: “E esse nível de engajamento pode fornecer geradores da história com alguns milhares de dólares por dia.”
O jornal declara que com o incidente, não há mais nenhuma linha entre informação e desinformação, entre o fato real e o pensamento mágico, entre a verdade e a mentira. Ambos agora são considerados igualmente válidos porque o sistema político e as criaturas dentro dele são incapazes ou não querem diferenciar entre eles. E a credibilidade midiática passa por um momento crítico. O grande jornal ainda concluiu, “A molecada de Veles ensinou como se demoniza um candidato.”
A notícia falsa, marketing real
O trabalho dos garotos macedônios começa sempre como qualquer outro produtor de conteúdo, navegando na web, procurando tópicos de tendência que ele possa aproveitar para dirigir o tráfego para seus sites. Mas, ele copia posts de outras páginas de notícias falsas, principalmente dos EUA, então ele “carrega nas tintas” e adiciona algumas pitadas de veneno no boato que vem da grande mídia que por sua vez sempre força muito quando se trata de verdade dos fatos.
Alguns exemplos de posts dos jovens da Macedônia:
“Trump deve expulsar todos os refugiados?” ou “Você considera Donald Trump, o Jesus da América?”
“BREAKING: Obama confirma a recusa de sair da Casa Branca, ele ficará no poder!”.
“APENAS: Obama transferiu ilegalmente o dinheiro do DOJ para a campanha de Clinton!”
“Robert de Niro muda a onda de hollywood para Trump”.
Isso de acender o fogo em ambiente de ânimos acirrados não é muito difícil de adivinhar como se faz. A elaboração com as palavras chaves encontradas vai multiplicando os resultados. As páginas no face levam os usuários ao site de notícias falsas que contém anúncios de produtos e serviços verdadeiros e economia real que pagam ao Google que paga ao anunciante, o tráfego intenso enche os anúncios de cliques. O Google paga à página por clique. Claro, torcida animada levanta negócios!
Os jovens de Veles dizem que as contas na Facebook chegaram a três milhões de curtidas. “O trabalho é simples. Você usa contas do Facebook o máximo que você pode manter, para espalhar conteúdo de notícias para outros usuários do Facebook. Você ganha dinheiro com o tráfego que é gerado para os anúncios nos sites que você promoveu”, disse um jovem de 22 anos à equipe da BuzzFeed News, um dos veículos de notícias que invadiram a cidade à procura dos garotos.
Aqui estamos falando em técnicas simples de marketing de conteúdo agregada a um trabalho específico de SEO, otimização para as buscas no Google, isso tudo multiplicada por investimento em anúncios e campanhas patrocinadas. Isso usado com inteligência e estratégia é uma grande arma para uma campanha.
A BuzzFeed, empresa especializada em pesquisar notícias virais, após as eleições, concluiu que os sites de notícias falsas estavam em melhor posição na web do que a grande mídia americana. E na época, mensalmente, a boate de Veles organizava noitadas especiais no dia que o Google pagava os anúncios, e rolava a festa.
Mas vale lembrar um ponto importante, a grande mídia também é e sempre foi produtora de fake news, isso não nasceu agora e é uma estratégia que já foi muito usada para denegrir imagens de candidatos. Fake News não nasceu na internet, mas é a internet que é o campo fértil para a viralização desse conteúdo. Como já diz o ditado, infelizmente, “uma mentira contada muitas vezes vira verdade”.
Muitas vezes é a mídia tradicional que amplia o alcance desses falsos conteúdos, fake new, como por exemplo o canal Fox, que foi acusado também de criar e publicar fake news na campanha de Trump.
Agora, concordamos que é mais fácil criar um site fake news do que abrir uma emissora de televisão?
Abaixo um exemplo de um jornal fake News.
Qual o público em potencial para acreditar em fake news?
O radicalizado, o torcedor, o cego, o que está em clima de confronto. Esse é um campo fértil para fake news. O que quer ler, acreditar, e compartilhar mentiras, os que enxerga a política apenas como guerra e ver os opositores como inimigos.
Potencial de Veles
O comércio de Veles sentiu quando o Facebook e o Google começaram a fechar páginas dos jovens na internet, os negócios caíram visivelmente. Mas, por outro lado, o impacto parece ter sido de curta duração, pois a cultura de marketing de conteúdo está provada e enraizada na juventude desempregada do lugar. Parece que esses moleques nunca passarão por dificuldades nos negócios.
Um dos editores das fake news disse que está dirigindo um site dedicado aos esportes de motos automáticas, onde é bastante criterioso com o conteúdo que publica. O novo negócio paga menos, mas é sua paixão.
É bom lembrar:
Fique atento ao que pode ser arma estratégica para sua campanha. É preciso usar técnicas mais avançadas para um belo trabalho de marketing político digital. Estamos falando de um terreno sério que pode alterar o rumo de qualquer eleição. Não é futuro, isso é presente.
Quem sair na frente com estratégias e tiver a equipe certa, ganhará uma vantagem incrível nas urnas.
Esqueça o amadorismo no Marketing Político Digital, ele pode custar sua campanha.
*Esse conteúdo é parte do ebook que iremos lançar atualizado agora em 2018.
Até breve.
Leandro Rehem.
Referências: