É uma tragédia, mas precisamos falar sobre, e encontrei uma matéria com uma abordagem interessante, escrita por Pedro KatchBorian da YouPix a respeito do efeito do digital e a falta de ética de pessoas nas redes sociais.
“A morte de Eduardo Campos na manhã desta quarta-feira foi uma tragédia. O avião em que o presidenciável estava caiu em Santos e o matou, junto com outras 6 pessoas que estavam a bordo. Em pouco tempo, como era de esperar, as redes sociais passaram a comentar, minuto a minuto, o acontecimento.
É difícil falar sobre um assunto delicado — ainda mais quando a única coisa que se deve fazer é respeitar os familiares de todos que estavam no avião. Mas ao se deparar com o que vemos nas redes sociais, a gente pensa a que ponto chegamos. Parece que, quando a única coisa a ser feita é uma manifestação de pêsames, as redes sociais fazem o contrário. Diego Maia resumiu bem o momento no Twitter:
Essa velocidade faz com que apareçam piadas e teorias da conspiração horas depois do acontecimento. Tanto que “foi a Dilma” figura agora entre os Trending Topics, já recebemos imagens da Dilma zuando a queda do avião no WhatsApp e nosso Facebook está recheado de piadas como “poderia ter sido o Aécio”.
Parece que Twitter e Facebook se tornaram imunes ao sentimento e à sensibilidade. O que importa é o momento — é dar as coisas o quanto antes, é cobrir tudo o quanto antes, é fazer a piada o mais rápido possível. Aquele negócio de “Too Soon” foi por água abaixo. Nas redes sociais, nunca é cedo demais pra nada. Alias, o fenômeno não se restringe às redes sociais: emissoras e jornais já discutem o impacto nos votos e como isso vai interferir nas eleições.
Um caso parecido aconteceu com Robin Willians — A ABC News falava sobre a morte do ator e como a família pedia privacidade em um momento tão difícil. Ao mesmo tempo na página, havia um link que mostrava imagens aéreas da casa do comediante.
Além disso, Zelda Willians, filha de Robin, desistiu das redes sociais por causa de trolls que não respeitaram a morte do pai. ACREDITA?
É impossível ter espaço. O overload de informações é tão grande e a vontade de compartilhar é tão intensa que não há qualquer sensibilidade, não há “silêncio” e muito menos privacidade. Não sabemos mais separar as coisas.
Casos como o de Eduardo Campos e Robin Willians provam que a sede de informação atropela qualquer tipo de respeito. Além disso, mostram que as redes sociais podem estar imunes à qualquer tipo de sentimento — seja ele tão difícil quanto a dor de um parente.
Algo deu muito errado com o mundo.”
Pedro Katchborian