As novas comunicações ainda não despertaram os brasileiros para um processo político consciente. Esse é o cenário de um país imenso, com liberdade para manifestação, mas com pouca consciência política.
Finalizadas as eleições resta saber o que realmente interessa como conhecimento digital. De um modo geral ganha-se com mais um pleito a reforçar o regime democrático e constitucionalista. Mas, por outro lado, a sociedade brasileira ainda espera uma possível mudança no cenário político que não houve.
Em 2013 o Brasil foi sacudido por manifestações populares dirigidas a políticos, tirando a elite da zona de conforto pela primeira vez na história. Esperava-se por isso que esses políticos estariam voltados àquelas demandas repetidas nas ruas do país, enquanto era disputada a Copa das Confederações da FIFA. Quem esperou por isso se frustrou. Foi bem distante o trajeto da história das eleições desses anseios sociais.
O uso da internet por políticos cresceu bastante, mas, não foi feita a eleição digital como se deve, com debates que migram do online para o offline e variedade de temas propositivos. Não foi bem assim. O que se viu foi uma campanha que trabalhou os aspectos negativos dos candidatos, todos contra todos. Com erros grosseiros para conversão e engajamento. Com blogs de guerrilha, sem o sentido da grande política, sem sentido de política alguma. Robôs foram contratados dentro e fora do país para replicar para as mídias sociais, mostrando a tradicional tendência da classe política para a manipulação.
CAMPANHA GROSSEIRA
Foi sem dúvida a campanha mais agressiva como jamais foi visto uma outra. As redes sociais foram o cenário de todo tipo de comunicação fraudulenta, com as mais disparatadas notícias falsas. Foi um tempo de agressão, não de relacionamento. A luta entre o fascismo rancoroso versus radicalismo vandalizado foi incentivada pelo aparato midiático tradicional para tocar ressentimentos virais da pior espécie, mostrando que a internet consciente ainda continua sendo um luxo intelectual. As pessoas mostraram suas máscaras mais tediosas e arrogantes.
O Whatsapp estreou na política, espelhando anônimos ataques virais. Mas o aplicativo foi usado internamente nas campanhas, para organizar e reunir assessores e militantes com excelência. Registro sombrio: a plataforma parece não ter sido usada para proposições, o que é uma pena.
POSTS FRACOS
A qualidade das postagens também não foi grande. No empenho em digladiar faltou compreensão textual, que apesar de ser informal a comunicação há de ser qualificada. Todavia as pessoas mostraram fragilidade verbal para se relacionarem. Era o discurso da paixão. Como diz o ditado – o mundo não é de quem mais ama, mas de quem melhor sabe demonstrar isso.”
AVANÇOS DE MPD
Porém, deve ser ressaltado que em relação as eleições de 2012 houve grandes avanços. Registrou-se uma corrida para as equipes profissionais de marketing digital. Por isso ainda podemos dizer que algumas campanhas demonstraram mais maturidade nas redes. E conseguiram integrar a rede multicanal, geralmente combinando Facebook com as outras mídias, o que realmente não existia há quatro anos, no formato antigo de campanhas. Mas, essa competência não foi a nota geral. Mas, ainda aconteceu um desfile de amadorismo, gestão equivocada com elementos ultrapassados, mesmo em páginas bem cuidadas. Equívocos de linguagem, pois as pessoas não distinguem ainda a leveza do marketing de relacionamento e fazem banners como solução. Ou seja, o passado ainda está presente.
OPORTUNIDADE DIGITAL DESPREZADA PELA CLASSE POLÍTICA
A classe política brasileira, que não é conhecida por sua capacidade de inovação, perdeu mais uma grande oportunidade de se aproximar dos eleitores, e continua a grande distância daquela fantástica entidade chamada “povo”. Perdeu também a chance de discutir um projeto estratégico de sociedade. A tecnologia tem feito uma revolução planetária, mas tem de diminuir a velocidade numa sociedade pouco politizada como a brasileira. Nosso país está vivendo um estágio do consumo narcísico-individualista como espírito da época, o que não ajuda no compartilhamento de mudanças essenciais de cidadania.
Desprezou-se a capilaridade consciente das mídias sociais para fazer manipulação massiva, e isso reflete o grau de desenvolvimento social que vivemos. Continuou-se fazendo a comunicação igual para todos com mensagens em grande difusão, revelando estupidez com as novas tecnologias. Isso explica porque não se engajou tanto quanto era o potencial da janela sem precedentes, das redes sociais que ficaram livres para fazer a melhor das campanhas. Muitas análises ainda serão realizadas sobre o marketing político digital das eleições em 2014 que fornecerão ainda maiores insights pontuais, nessa tendência de pouco aproveitamento das novas comunicações.
O problema é que quando não nos adiantamos para resolver demandas reais elas continuam e crescem. Os protestos poderão voltar em breve, o alvo, naturalmente, será a classe política, e quem estará na frente sempre serão os jovens, que herdarão o futuro.